Imagem: A Mulher com Sombrinha - Kirchner
Era Ano Novo e as promessas pareciam grandes. Vira as estrelas da rede. Bebera o juízo e deixara-se cair nos braços bêbados do amigo. Aquele desejo calado beijava. Janeiro na terra da garoa. Chegou o carnaval. A avenida ficou pequena para tantos amores. A chuva derretia o chão e limpava a história. Março. Os novos colegas. Odeio gremista. Assim começou. Não é que até daquelezinho ficou amiga? Trocou o samba pelos inferninhos. A Bohemia pela Heineken. As noites passaram a ser preenchidas por paixões mais rápidas que a luz. Confundiu-se nas escolhas. As cidades com B: Belém, Belo Horizonte, Brasília. Conheceu o sorriso do vendedor de nuvens. O moço derramava encantos. Tropeçava em seus amantes. O mito desencantado. A saudade velada, calada, doída da cidade fria. Nada de visitas. O ano prometia distanciar. Era tempo de refletir. Precisava crescer. Destruir o que ainda restava da Chapeuzinho Amarelo. São Paulo. O amigo do ano-novo. Veio passear. Amaram-se, sorriram e se feriram. Amizade colorida. Benedito Calixto: samba, beijos e cervejas. A realidade lhe chamava. Um encontro com o desespero lhe fez mudar o rumo. Agosto fez parar o furacão. Centrava-se agora em duas mãos pequenas. Fez o caminho se dividir mais uma vez. Reencontrou o primeiro e único amor. Duas horas de encanto e desencanto. Não podia mais ser como tinha sido um dia. A dança, o teatro, o francês. A filosofia! Conhecera quarenta novas pessoas. A sensação de falar sem compreender totalmente. Perdia o medo e ganhava outros. A morte pela primeira vez apareceu. Fazia tanta coisa perder o sentido. Ver a casa sem aquele sorriso. O telefone que nunca mais iria atender.Resolveu escrever seu amor. Parecia que tudo andava tão bem. Mas a vontade de voltar para o olho do furacão não lhe abandonava. Que coisa... que mania essa de desejar, de ver a noite brilhar, de cantar o início da paixão. Falta um mês para tudo começar de novo. E pra novidade chegar...