domingo, 24 de maio de 2009

Sincronia: linha invisível


Os braços esticaram. Sem precisar tocar as mãos. Como se um fio invisível ligasse os dois corpos. Naturalmente deslizava um no outro. Pareciam ter dançado a vida toda juntos mesmo sem nunca terem se tocado. O olhar fazia um coração dançar. A dança colocava o outro em movimento. Juntos sentiam-se flutuando horizontalmente em pedacinhos de papel brilhante. As idéias também se tocavam. Pareciam ter sido pares desde o nascimento. Entendiam-se na inércia e na vontade de passear devagarinho pelo mundo sem fim da imaginação. Um pensamento conectava-se com o do outro em movimentos cada vez mais ousados. Mas sempre, a pedra no meio do caminho... E o caminho iniciara-se antes de os braços se alongarem. A sincronia interrompia-se por tropeços. De repente os papéis começaram a perder o brilho. Um corpo não encontrava mais o outro. Os pensamentos ora se deliciavam ora colidiam. Não tinha jeito de tirar aquela náusea de dentro do corpo. Estava tudo pronto para transbordar. Juntos tinham tantas outras histórias. Tantos outros cheiros, sensações, momentos. O cheiro do ralo, as baratas, os monstros: por tanto tempo calados, decidiram agora passear. Não era possível controlar a velocidade com que corpo e pensamento se moviam. Via agora tudo de fora. Seu corpo virara marionete de seus sentimentos. Não há mais ninguém no controle... os braços não se encontram... Enquanto isso suspende-se um coração e vive-se na iminência da queda...

sábado, 23 de maio de 2009

Corazón

http://www.youtube.com/watch?v=hsAVOQR4rEw

E se a estrada sumisse no sem tempo da nossa sincronia, o dia em mil partes confeitadas se desfaria...

sábado, 9 de maio de 2009

Dessa coisa de gostar...

Se é que dá para comparar a vida com algo. É. Dá. Com esse movimento sem fim. Esse que surge em noites despreparadas e vão crescendo dentro do peito. Sim, crescem como samba em dia de festa. A gente tenta, fala para parar, diz que tem limite, mas não adianta. Felicidade é assim mesmo. Chega quando quer e vai-se embora quando menos se espera. Eu continuo. Vivendo dessa montanha-russa que criei para mim. Se dizem que não há preço, contradigo. Há sim. E é altíssmo. Só eu sei quantas risadas deixei de dar, quantos sorrisos se enterraram no vaso de flor, e quantos choros calados dormiram nesse colchão. Tudo em busca daquela coisinha que nos tira do lugar. Por isso não entendo quando dizem que tem que ser tudo o contrário. A história de o formal virar material vá lá. Mas fazer isso com o amor? É porque perderam o coração de vez... Ora ou outra vou também acabar sem ele, mas por enquanto como é bom... Ouço a chuva e lembro do cheiro que fez meu caminho mudar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Bermudas que precisavam vestir calças


Teve um tempo em que passarinhos deslizavam pelas ruas e de repente arrementiam em um vôo colorido. Eu passeava distraidamente, sem me preocupar com pequenas dores da alma. Pensei por certos momentos que o para sempre seria possível. Mas vieram dias, noites e o tempo. E, de repente, ao mudar a estação, um vento soprou tudo que existia de faz-de-conta na minha vida. Faz já uns dias, quem sabe meses ou anos... que ando por aí dispersa. Cruzo com olhares vazios que pouco me dizem. Falam tão pouco da vida. De repente em um instante armado cruzei com um par de bermudas que só podiam usar calças. E assim que mais uma vez tudo que é proibido tomou gosto de vento no rosto. Daqueles que fazem a pele corar e os olhos lacrimejarem. Meu corpo agora soluça, a voz some. Resta um desejo de felicidade. Contido. Mas com os olhos sempre verdes na esperança de que ele vista as bermudas. Entregue-se a uma outra vontade de viver daquele jeito que só duas mãos já souberam um dia.