quinta-feira, 31 de julho de 2008

É preciso cantar...


Descobrir-se no buraco escuro da vida. Esbarrando ora no legal, ora na barbárie. Abria aquelas páginas como quem retoma o rosado da face depois de um coma de anos. O mundo coloria-se, gritava, descabelava-se... A flor continuava a preocupar-se com seu perfume já azedo. Pode? A revolução interna lhe tomava tanto tempo... Esquecia de vigiar o buraco da janela. Quem sabe o mundo tivesse lhe contado antes a sua inscrição. O desconforto de não saber onde encaixar não lhe era nada exclusivo nem original. Os tombos frequentes tinham que desaparecer. Chega de desmaiar por um olhar torto. A fumaça faz descortinar o seu desgosto. Abram, abram, vai começar! A banda vai sair da caixinha de música. É tempo de abrir a boca e engolir os raios de sol.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Hora de parar




A moça senta no canto do bar. Desliza os dedos nos fios macios do cabelo. Seus olhos refletem a angústia da noite. Ajeita a franja, olha a hora. Cinco minutos passaram. Nada do moço. Ajeita-se na cadeira. As idéias já fervilham em sua cabeça. Passa o menino pedindo dinheiro para mãe. Não. Refaz os percursos do pensamento. Como pode dançar tanto em torno de si mesma? Nauseia-se com seu egoísmo idiota. São casas simples com cadeiras na calçada. Lar? Lar? Descobre que não sabe de onde vem seu monstro. Mergulha novamente em seu labirinto. Cria histórias descalabradas para entender os cinco minutos. Ops. Agora são sete. Moço recebeu um telefonema, achou melhor não sair de casa. O idiota tava brincando com a cara dela. Mas pode ser que tenha só atrasado no banho. Não, não. Foi assaltado no meio do caminho. Marcou em outro lugar e a tonta está esperando no bar errado. Pergunta o nome pro garçon. Não, não. Olha as horas. Mais três minutos. Quem mandou ser ansiosa desse jeito? Não sabe que ela que poderia ter atrasado? Aliás ela chegou três minutos depois do combinado. E se ele tivesse chegado antes? Acha melhor ligar. Não, não atende. O idiota realmente deu o cano. Levanta-se, olha a porta. Nem sinal. Todo caso melhor arrumar a franja. Afunda-se em seu mar de poluição amorosa. Foram tantas decepções. Dançou tantas vezes com o corpo colado e o cheiro ardendo. Minutos a dança escorria. Cada um no seu lado. Sabe? Amizade é pra sempre! Não precisa acabar. 25 anos. Seus pensamentos escorregam no desgosto. Moço aparece. Semblante dela irradia-se de felicidade mentirosa. Tava querendo esganar o cara que não pensa. Ela odeia esperar. Uma vez ficou esperando meia hora numa livraria. Não conseguia nem ler o conto da Clarice que mais lhe marcara. Sabe? É atrasar só faz mal. Tenta esquecer o furacão que inventara pra si mesma. Se pelo menos ele pegasse na mão dela... Que menina idiota! Nunca vi tão carente assim. EI! EI! MOÇA! PÁRA!!!! A vida lá fora tá gritando seu nome e você entorpecida pelos seus silêncios. TÁ HORA!!! Biiii! Biii!!!!

domingo, 6 de julho de 2008

Há um bom motivo para não odiar domingo?



Hoje me explicaram o grande mistério de domingo: A SEROTONINA TAMBÉM NÃO TRABALHA! Até acho justo que tire folga, mas o prejuízo é danado. Acho que ela poderia variar um pouquinho a data do descanso e fazer uns plantões a mais no domingo. Sim, porque a minha tira folga invariavelmente nesse diazinho que tem cara de feliz, mas é o mais melancólico de toda a semana. Pedi então para que me dessem uma boa razão para eu não detestar esse bendito dia. Sim, porque além de tudo é dia santo, quer dizer, que ele tem nas costas uma culpa cristã daquelas que nem um bonde pode carregar.

Então me deram dois motivos para eu suportar o domingo. O primeira foi que nesse dia a gente não trabalha. Olha, não sei se isso é vantagem. Trabalho não é lá agradável, mas sempre rola aquela piadinha, um encontro com os colegas, um cafezinho... tem lá escondidinho coisas legais nos seus intervalos. (Ponto perdido, portanto, domingo não vale mais por isso).O segundo foi o de não precisarmos acordar cedo. Verdade. Mas e depois que a gente acorda? Tem o resto do domingo inteiro para suportar...

Foi aí que eu mesma começei a pensar as minhas razões de domingo. Descobri que há coisinhas que deixam o dia menos horroroso como eu suponho. Lá vão então as minhas descobertas adocicadas para viver um domingo:

Dá pra tomar um banho mais demorado ouvindo música. A gente sempre acaba comendo uma comidinha mais gostosa . Tem o sorriso alegre e a piada gentil do frentista meu amigo. Um telefonema de alguém que eu gosto, mas mora lááá longe. Minha mãe sempre perde um tempinho contando as fofocas daquela terra que eu nasci. Um tralálá mais demorado com o meu vizinho médico que quer saber o que eu ando estudando e fica brigando comigo porque acredita que a ciência é a salvação da humanidade. A lembrança boa ou ruim da noite de sábado. Um passeiozinho com o João. Antigamente, tinha o almoço "ácido" com o Andrezito. Também é gostoso ver como a minha irmã adora passar o dia estirada no sofá lendo e vendo tv. Dá para ler os livros gostosos sem culpa. Tem os dropes de domingo no blog da Regininha (hoje não, hunf). Uma conversa mais comprida no msn com a Lola e com a Mariana de Belém (apesar de as duas realmente terem tirado férias). E tem o que eu mais gosto que é o cheiro de café nas casas. E lá em Ponta Grossa, a fumaça do churrasco... Quem sabe eu aprenda um pouquinho com esses presentinhos de hoje... Bom domingo!!!!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Corpos

Era um encontro amaldiçoado. Dois corpos dolorosos marcados pela despedida da terra sem mar. Nascia mais uma dor. Mais uma consequência das minas. Devem ter escondido explosivos ali. Só pode! Esticaram os pés para o abismo. Escorregaram no vácuo com a pele colada. Esqueceram a responsabilidade naqueles desvios. Uma mão encontrava o desejo. Chamas desoladas choravam por um encontro. Um cheiro docemente feliz começara a lhe perturbar. Desvanecida de pudor entregara-se aos olhos que refletiam. Uma vez lhe contaram que isso era de fazer querer para sempre. Não podia. O destino já lhe tinha dado um aviso. Todas as letras gritavam: NÃO! Os holofotes piscavam em sinal de alerta. As nuvens encobriam o sol para mostrar o choro. Teimava, então, em burlar qualquer sinal que começasse com a letra "n". Achava que podia se transformar em água. Mas como? Se era o fogo que tinha conquistado esse pesar. Desejava aquele caos tão na medida certa do seu. Desnudava pensamentos. Colhia aventuras. Fazia ventar idéias. Aquecia o esquecido. Mas, sempre ele, o vilão da história vinha escrever mais um não. Dois corpos dolorosos marcados pela despedida da terra com mar.