segunda-feira, 7 de julho de 2008

Hora de parar




A moça senta no canto do bar. Desliza os dedos nos fios macios do cabelo. Seus olhos refletem a angústia da noite. Ajeita a franja, olha a hora. Cinco minutos passaram. Nada do moço. Ajeita-se na cadeira. As idéias já fervilham em sua cabeça. Passa o menino pedindo dinheiro para mãe. Não. Refaz os percursos do pensamento. Como pode dançar tanto em torno de si mesma? Nauseia-se com seu egoísmo idiota. São casas simples com cadeiras na calçada. Lar? Lar? Descobre que não sabe de onde vem seu monstro. Mergulha novamente em seu labirinto. Cria histórias descalabradas para entender os cinco minutos. Ops. Agora são sete. Moço recebeu um telefonema, achou melhor não sair de casa. O idiota tava brincando com a cara dela. Mas pode ser que tenha só atrasado no banho. Não, não. Foi assaltado no meio do caminho. Marcou em outro lugar e a tonta está esperando no bar errado. Pergunta o nome pro garçon. Não, não. Olha as horas. Mais três minutos. Quem mandou ser ansiosa desse jeito? Não sabe que ela que poderia ter atrasado? Aliás ela chegou três minutos depois do combinado. E se ele tivesse chegado antes? Acha melhor ligar. Não, não atende. O idiota realmente deu o cano. Levanta-se, olha a porta. Nem sinal. Todo caso melhor arrumar a franja. Afunda-se em seu mar de poluição amorosa. Foram tantas decepções. Dançou tantas vezes com o corpo colado e o cheiro ardendo. Minutos a dança escorria. Cada um no seu lado. Sabe? Amizade é pra sempre! Não precisa acabar. 25 anos. Seus pensamentos escorregam no desgosto. Moço aparece. Semblante dela irradia-se de felicidade mentirosa. Tava querendo esganar o cara que não pensa. Ela odeia esperar. Uma vez ficou esperando meia hora numa livraria. Não conseguia nem ler o conto da Clarice que mais lhe marcara. Sabe? É atrasar só faz mal. Tenta esquecer o furacão que inventara pra si mesma. Se pelo menos ele pegasse na mão dela... Que menina idiota! Nunca vi tão carente assim. EI! EI! MOÇA! PÁRA!!!! A vida lá fora tá gritando seu nome e você entorpecida pelos seus silêncios. TÁ HORA!!! Biiii! Biii!!!!

3 comentários:

J C disse...

A Mafalda e suas crises...

=D

=o*

Conheço o cambalhotas sim e gostei daqui!

=P

Cassia disse...

Letícia,

esse seu texto me lembrou Amélie fantasiando razões para o tão esperado rapaz chegar e quando ele chega ela simplesmente não sabe o que fazer e prefere inventar mais uma fantasia e, quando ele se vai, se esparrama no chão feito água, lívida de arrependimento e excitação.

Sinto-me igualzinha às vezes =p


Aaah! Sabe uma coisa que muito me chamou atenção: seu "Biiii! Biii!!!!" no final. Essa é uma coisa engraçada, flor, e que eu adoro contar: eu, quando era pequena [não que eu não seja nesses meus 1,64m], mas quando eu era pequena mesmo fazia trelas contarolando em uníssono "Biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii" até perder o fôlego e começar outra vez! Imagina: a criança que apitava enquanto trelava! Huhuahuahuhuhua Ainda dou gargalhadas dessa menina!! Devia ser lindo!

Grande Beijo pra vc, moça!

Cassia disse...

Hahuahauhauhauhauhauhau

Trela é traquinagem...

É fazer coisa que criança não pode e que pai briga, mas é divertido!

Beijo, Moça!