terça-feira, 19 de outubro de 2010

abismo

Mergulho em estilhaços de desejos não queridos. Não há segundo sem que viva sem essa loucura de mim. Não é fácil segurar um olhar que se constrói de pequenos abismos. Nada de escatologias por hoje, por favor!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

a dor do não dito

Redescobrir os caminhos do texto é encontrar-se com o lugar do indizível. Sabe-se que esse inominável é de alta periculosidade. Caminha de olhos fechados no meio da avenida. Nauseia-se então na palavra seguinte. A dor do inatingível lhe alcança todos os dias. Como explicar para um lugar cinza que as danças se concluem muito vagarosamente em sua mente? Mas de repente estalam! Tornam-se nítidas e intensas. Como se sempre estivessem ali só esperando para serem nomeadas. Não é possível pausar o tempo, desfazer angústias e desmembrar as dores. Tudo persiste na intensidade caótica do pensamento. Como é mesmo o nome dessa palavra? Expressar. Cada vez é mais difícil expressar. Deslocar o pensamento para o papel. Revirar a garganta na procura do substantivo. Chacoalhar o cérebro na busca de uma definição. É! Desse modo. Assim. E assim continua o texto. Um texto que não vai atingir seu lugar. O topo do morro é inacessível à linguagem. Só o pensamento e a idéia podem chegar até lá. Quem sabe o corpo em movimento transmita melhor a mensagem. O ato de escrever cristaliza o movimento do pensamento. Impede que os devaneios sejam compreendidos. Amarra a alma em um nó de gravata. Desfaz-se no horizonte. No outro dia retorna. Aperta. Afrouxa. Desespera os sentidos. Cala a alma. No outro instante grita. No entanto, nada expressa. Gira em círculos desatinados em busca da palavra. AHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

(des)sanidade


Imagem: Explosão - Clarice Lispector/1975
O sol distribuído sobre seu corpo fazia a sede expirar, redescobrindo a luz de um tempo em que pouquíssimo era permitido. No entanto, exatamente a proteção que retirava a liberdade trazia segurança. Depois de se encolher na tentativa de se tornar um verme branco, toca a luz de um sem cor. São pequenas réstias assemelhadas ao fogo. Permitem que após alguns rainhos com semblante de sol, o todo se torne um mar de branco. Lá onde parece se esconder uma falsa paz. Sofria com o desejo de exprimir o até agora impronunciado. Sofria com a luminosidade, pois lhe trazia cores indesejadas. Esse sentimento lembrava que conforme o tempo passava ia deixando suas peles. A primeira perdida parece a mais sensível. Foram muitos os calos que tornaram insustentável qualquer tentativa de reparo. A segunda continha uma cicatriz no centro do caule que lhe marcaria para toda a vida. Há pouco tempo está construindo uma terceira. Essa passou por períodos críticos de queimadura. Recuperou-se bem de todas. É tão forte que apenas o pensamento de que essa se rompa lhe nauseia. Obstruir mais uma vez essa fina camada que a mantém na linha tênue da sanide...mudar a luz e designar novos laços é um perigo que não pode mais correr. A raiz precisa se tornar segura para desmembrar-se em galhos sem que por isso se corte em pedaços não mais recuperáveis.