segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

(des)sanidade


Imagem: Explosão - Clarice Lispector/1975
O sol distribuído sobre seu corpo fazia a sede expirar, redescobrindo a luz de um tempo em que pouquíssimo era permitido. No entanto, exatamente a proteção que retirava a liberdade trazia segurança. Depois de se encolher na tentativa de se tornar um verme branco, toca a luz de um sem cor. São pequenas réstias assemelhadas ao fogo. Permitem que após alguns rainhos com semblante de sol, o todo se torne um mar de branco. Lá onde parece se esconder uma falsa paz. Sofria com o desejo de exprimir o até agora impronunciado. Sofria com a luminosidade, pois lhe trazia cores indesejadas. Esse sentimento lembrava que conforme o tempo passava ia deixando suas peles. A primeira perdida parece a mais sensível. Foram muitos os calos que tornaram insustentável qualquer tentativa de reparo. A segunda continha uma cicatriz no centro do caule que lhe marcaria para toda a vida. Há pouco tempo está construindo uma terceira. Essa passou por períodos críticos de queimadura. Recuperou-se bem de todas. É tão forte que apenas o pensamento de que essa se rompa lhe nauseia. Obstruir mais uma vez essa fina camada que a mantém na linha tênue da sanide...mudar a luz e designar novos laços é um perigo que não pode mais correr. A raiz precisa se tornar segura para desmembrar-se em galhos sem que por isso se corte em pedaços não mais recuperáveis.

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