domingo, 24 de maio de 2009

Sincronia: linha invisível


Os braços esticaram. Sem precisar tocar as mãos. Como se um fio invisível ligasse os dois corpos. Naturalmente deslizava um no outro. Pareciam ter dançado a vida toda juntos mesmo sem nunca terem se tocado. O olhar fazia um coração dançar. A dança colocava o outro em movimento. Juntos sentiam-se flutuando horizontalmente em pedacinhos de papel brilhante. As idéias também se tocavam. Pareciam ter sido pares desde o nascimento. Entendiam-se na inércia e na vontade de passear devagarinho pelo mundo sem fim da imaginação. Um pensamento conectava-se com o do outro em movimentos cada vez mais ousados. Mas sempre, a pedra no meio do caminho... E o caminho iniciara-se antes de os braços se alongarem. A sincronia interrompia-se por tropeços. De repente os papéis começaram a perder o brilho. Um corpo não encontrava mais o outro. Os pensamentos ora se deliciavam ora colidiam. Não tinha jeito de tirar aquela náusea de dentro do corpo. Estava tudo pronto para transbordar. Juntos tinham tantas outras histórias. Tantos outros cheiros, sensações, momentos. O cheiro do ralo, as baratas, os monstros: por tanto tempo calados, decidiram agora passear. Não era possível controlar a velocidade com que corpo e pensamento se moviam. Via agora tudo de fora. Seu corpo virara marionete de seus sentimentos. Não há mais ninguém no controle... os braços não se encontram... Enquanto isso suspende-se um coração e vive-se na iminência da queda...

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