Dia normal. Leituras e obrigações. Desci as escadas para ir até o centro. Já eram quase cinco horas, estava atrasada. Mas me detive por alguns segundos na curiosidade habitual que tenho com a caixinha do correio. Uma surpresa quando vi que tinha uma carta mais gordinha. O envelope estava exatamente com a pontinha saindo pra fora. Com todo o cuidado que não costumo ter fui puxando devagarinho. Como estava sem a chave da caixinha, um segundo de descuido significaria ver a carta indo pro fundo do buraquinho. Não saberia de quem era. Ela deslizou, mas eu agarrei com a ponta dos dedos. Consegui! Estava toda alegrinha achando que podia ser um presentinho do Pará. Pois sabe que receber uma carta é como ganhar um presente. Foram dois segundos que os olhos brilharam. Nos dois seguintes enxerguei a marca do Banco do Brasil. Droga! Será que um dia a gente recebe algo que não seja conta ou propaganda?
Boas foram aquelas épocas em que chegava do frio da rua e sorridentemente uma senhora me esperava. Ela estava claramente fascinada com aquelas cartas que eu recebia todas as semanas. Vinham de tão longe... Eu ansiava cada um daqueles envelopinhos tão gostosos. Pegava aquele segredo e subia correndo para o meu quarto. A senhora, coitada, vivia na ilusão de que eu lhe contasse de quem eram, o que diziam, de onde eram... Mas aquele era só pra mim. Lá dentro, sozinha, eu olhava para o selo, para a letra da carta, balançava, olhava através do envelope. E então rasgava pelo ladinho, para que nenhuma letrinha fosse ferida. Que prazer!!!
Eu me angustiava com a demora de um papel tão amado que vinha de tão longe. Insisti para que aprendesse a usar a internet. E foi no que deu. Antes eu sabia que as palavras eram pensadas em um pub, muitas vezes regadas a Guiness. Naquele lugar que sempre nos encontrávamos na saída da estação, onde ficou uma tulipa amarela que deveria ter sido minha. Agora, provavelmente, elas são escritas em uma mesa de biblioteca, de uma máquina usada por milhares e milhares de pessoas. Infelizmente raramente vivo de novo essa sensação da espera que senti hoje a tardezinha ao tentar pegar a carta do Banco do Brasil. Como podia ser tão tola e achar ruim toda aquela expectativa?
Agora o que me resta é esperar uma carta prometida de terras mais quentes que aquela, mas sei não se chega, viu?