Imagem: Magic Garden - Paul Klee
ao meu amigo Vinicius.
Queri já fez 30 e não achou sua rima. Queri ama tanto que até as orquídeas nascem na janela no primeiro do ano. Queri acorda depois de desligar onze vezes o despertador. Sai de casa com o ponteiro já quebrando. Confere se a carteira está no bolso, ajeita o óculos no rosto, fecha o portão baixinho e segura minha mão. Subimos devagarzinho a rua do bairro até chegar o ponto de ônibus. Com cara de menino santo, mas espírito malandro, disfarçadamente, escorrega sua mão dentro da minha roupa. Como se estivesse dentro de quatro paredes. Dou um beliscão em queri e junto um sorriso molinho. Procuro seu rosto fresquinho para amá-lo com um beijo no rosto. A barba pinica. Um ônibus para o centro, um metrô para a Paulista. Queri continua atrasado. Lá vão os olhos perguntadores cheios de segredos. Eu que me achava tão sabida de queri, já não sei mais. Não sei mais se ri de gosto de viver ou porque se acostumou a ser assim. É o último a chegar ao trabalho, mas nada passa despercebido aos seus olhos. Se eu pudesse escolher, casava com queri. Mas eu nasci com gosto estragado. Queri não é moço de casar. Como gosto de gente sem paradeiro, de gente que ama a vida mesmo dando vontade de desistir. Nessa roda-gigante, hora sofro eu, hora sofre queri. Triste é sofrer por queri. Justo eu que faço tudo tão parecido com queri, como não consigo entender? Queri agora tem 30 e não quer saber de namoro de asa quebrada. Mas como viajar 700 quilômetros com a asa machucada? Esse amor de queris precisa de outra cor. Cor sem dor, cor de novo amor. Vê se aprende dessa vez, hein, queri?
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