terça-feira, 27 de maio de 2008

Vingança mode [off]


Faz uns dias que uma coisa muito importante para mim acabou. Sim, eu sou lerdinha e demoro séculos pra processar tudo. Mas, juro, juro, que não sobrou nada... nem amor nem ódio. Mas enquanto eu ainda estava tristinha e remoendo o passado era tão reconfortante ouvir essa música na voz da Mônica Salmaso...

Vingança (Francisco Mattoso e José Maria de Abreu)

Lá na beira do roçado,

Onde a tristeza não vem
Eu vivia sossegado
Com a viola do meu lado
Mais feliz do que ninguém

Numa festa no arraiá
Vi dois óio a me olhá
Decidi no improviso,
Ela me deu um sorriso
E comigo foi morar

Nunca mais fui cantador
E a viola descansou
Eu vivia pra cabocla,
Eu vivia pra cabocla
Só pensava em meu amor

Nunca fui feliz assim
Eu mesmo disse pra mim,
Pensei que a felicidade,
Pensei que a felicidade
Não pudesse ter um fim

Mas um dia a malvada
Foi-se embora e me esqueceu
Com um caboclo decidido,
Juca Antônio conhecido
Cantador mais do que eu

Já cansado de esperar,
Desisti de procurar
A cabocla que um dia
Levou minha alegria
Eu jurei de me vingar

Numa festa fui cantar
E a mulata tava lá
Juro por Nossa Senhora
Juro por Nossa Senhora
Que a cabocla eu quis matar

Mas fiquei sem respirar
Quando vi ela dançar
Ela tava tão bonita,
Ela tava tão bonita
Que esqueci de me vingar

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O tempo: vampiro do homem


Saía devagar do torpor do sono. Pensava nas alternativas para aquele dia. Estudo ou sono? Um livrinho divertido ou cinema? De repente aquela voz que conhece desde que ainda nem tinha visto a luz do mundo lhe chamava. A notícia já era esperada, mas não podia ser mais triste. De repente o universo tinha virado a cambalhota que tanto ensaiara. E aquela gana de rasgar o bilhete que ganhara ao nascer. Não compreende muito bem o milagre da vida. Acreditar naquela historinha que tanto lhe contaram? Não conseguia mais. Pode ser que isso deixasse seu dia mais respirável. O ar entrava e saia, mas no meio do caminho parecia que se comprimia. Sabe-se lá quando é que vai resolver parar entre o estômago e a garganta... Ficará lá para sempre? As idéias se derretem como sorvete em dia de calor. Persistem por um segundo. No seguinte se esvaiem em um labirinto. A saga da não linearidade. Voltar para aquela dor que primeiro conheceu. Amedronta-se. Esqueceu como tinha planejado pintar a linha do seu corpo. Na verdade, não sabe mais se alguma coisa daquelas fariam-na suspirar em um sorriso. Esmaga-se na lembrança. Culpa-se pelo choro calado mas também pelo riso gritado. O que será que será? Se coxixassem o segredo daquela chavezinha em seu ouvido... Pode ser que seu amigo tenha muita razão ao dizer que pelo menos foi ele quem pagou as últimas duas garrafas de vodka naquela noite despretenciosa. O calor gostoso do gozo e o torpor do álcool ... AHHHHHHHH!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Filme antes do fim


Um par de calças vermelha levantava seu pé direito. Nada via. Apenas sentia um sobe e desce danado dentro da blusa verde. Não enxergava o gosto do mundo. Desenhava suas cores pelo corpo. Numa noite a toa deparou-se com um sorriso. Não era desses que ela via todos os dias. Nem cabia dentro da sua caixinha. Ganhava um doce novo. Cenas coloridas povoaram seu mundo caótico. Não, ela não queria repetir a história. Roncavam os motores. Mais uma vez seus sentidos falhavam. Perdia a audição. Ninguém queria saber de abrir o zíper. Escutava apenas dois olhos negros. A dança podia fazer o filme rodar. Sentia o gira-mundo. O peão caledoscópio lhe mostrava novas poesias. Voltava pelo mesmo caminho. Ansiava ver o fim do filme. Não queria que a história se arrastasse. Os ponteiros do relógio ganharam vida. As folhas do calendário apontavam para o ano-novo. Como? O inverno nem havia começado...Não podia controlar as imagens. Ao mesmo tempo, vestia aquela saia mais uma vez. Sabia que seus passos descompassados lhe faziam tropeçar. Dessa vez não. O zíper não combinava. Que tal trocar? Podiam ser botões. Risca o braço. Pontilha as pernas. A linha desenvolve-se para fora de si. A intensidade lhe nauseia. Não entende o silêncio do tempo. Quando pousa um passarinho na árvore, por que não faz dela seu ninho? Outros olhos desejavam seus suspiros cheios de vontade. Outras vozes gostariam de encontrar com sua língua. Mas o corpo da criatura pedia aquelas entrelinhas. Suas entranhas se aqueceram de conversinhas sem sentido. Ela entendia a riqueza das palavras que se desfazem no vai-e-vem do trabalho. Despejava todo seu rio caudaloso de desejos. Corre, corre, corre! O filme termina antes de ela chegar do outro lado.

domingo, 11 de maio de 2008

Eu: por Mari.




Um dia a Mari escreveu de mim pra mim...

Eu ainda não sei muito bem como isso funciona, mas eu sou forte. Não é para qualquer um ser o que eu sou. Às vezes é sofrido, mas não dá para ser diferente, porque só assim eu sou feliz. Meus amigos e minha família me amam muito, me mimam, abusam de mim, me educam, mandam em mim e me aturam, às vezes. E porque eu amo tanto todos eles, mas tanto, deixo tudo isso acontecer. Às vezes eu olho o mundo e não me encaixo em lugar nenhum, e vou vivendo mesmo assim. Depois, é como se eu tivesse construído um mundo dentro desse mundo estranho, que é só meu e que é muito legal.

E continua a ser verdade naquele sentido dialético, de que os espelhos se multiplicam... de que do real vem a norma e a norma recria o real, recriando também a norma...