sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Meu vô


Os olhos verdes mais cheios de coco do mundo pediram para descansar. Mas essa gente sem fé chora porque quer ouvi-los assobiar. A próxima florada de café. A parreira carregada. A posse do prefeito. Prato cheio para os passarinhos. Mas e ele? Eram dele as uvas, o leite e os cocos mais doces. As palavras mais ternas e cheias de música. O loro que não aprendeu a falar. A casa que precisa fechar. A banda no coreto da praça. A poltrona para espichar as pernas. Cabeça de menino pequeno pra morder. A vó com a casa pra cuidar. Os meninos com as contas. As histórias de morrer de rir. As palavras de fazer chorar. As minhocas pros peixes. A botina e o chapéu do sítio. A piscina. O pôr do sol mais cor-de-rosa do mundo. A família de mulheres. Os doentes que tinha que cuidar. A pergunta sobre o tempo. Os dias mais quentes de verão. A calçada fervendo... Tanta coisa que nem dá pra contar. Mas os olhos ficam. Não quiseram ir bater papo com o Rui. Continuam a amar. E essa gente sem fé que não pára de chorar.

3 comentários:

Anônimo disse...

lê,
minha mais sincera cumplicidade...
=* linda

ZG disse...

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

Letícia, talvez eu seja a pior pessoa do mundo para lidar com partidas, percas e ausências. No entanto, sempre que leio este poema, consigo me sentir um pouco melhor.
Fica bem.
Um Beijo,

oh my! disse...

Saudade, amiga. Um abraço bem apertado.

(um amigo português leitor do teu blog me contou, fazia tempo que eu não passava por aqui)

Lembranças doces e bonitas de uma vida toda, que amado vovô :)