segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Busca do eterno vazio


A chuva de papel picado derreteu. O vento fazia pairar uma nuvem de confetes usados. A dor lhe enjoava. A vida seguia molhada. Tudo escorre: dor, amor, ilusão. Os movimentos é que salvam do torpor. Os corações, que seguram nas mãozinhas pequenas, passam. Isso fazia ela se sentir tão pequena. Queria mesmo era se enfiar embaixo do buraco da porta. Conseguir ficar ali, esticadinha, bem retinha. A porta ia passar por cima e voltar sem que nem sentisse. As alegrias bobas iam se desfazendo. Os encontros passageiros. O tempo de matar o coração. Por quê? Por que um sábado a noite podia lhe matar tanto tempo? Queria se pintar de vermelho. Passar a tolha. Tudo ia ficar lisinho. Como se existisse uma borracha que apagasse as histórias da caixinha colorida. Essa caixa precisa ser incendiada. A música estava lhe sufocando. Seu tesão derretia junto com a chuva... esvaía-se. Resta um nome vazio. Nem se achava mais digna dele. Matar Nietzsche, não só Deus. Quem sabe? Queria que os confetes já borrados se enfileirassem, formassem letras, lhe escrevessem a verdade. Mas as sensações continuam a lhe envenenar em busca de seu eterno vazio.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Madrepérola


Imagem: Water lilies - Claude Monet
Fora encontrada na beira do mar. Não tinha as cores mais bonitas. Alguém acreditou que de dentro daquilo algo bom poderia se dar. Estava em estágio pré-lapidação. Como era escura! Escondia os mistérios de olhos já vividos. Quebravam, batiam, cortavam. Aos poucos, devagar, a violência escondida no brilho ia aparecendo. Estranho. O rosa, o verde, o indizível: iam se misturando em filetes fininhos. Não era brilhante, mas mostrava cores deliciosas. E quantas eram, quantos tons, quanta paixão. Devagar a danada ia se mostrando bonita. Se no começo ninguém lhe queria, agora já queriam saber a hora de a levar para a cidade. Quem a desvendasse, poderia tê-la. Gostava de sentir as ondas baterem fortes em seu pequeno tamanho. Acostumara-se com o vai e vem das águas. Desde pequenininha fora assim. Não tinha como lhe roubarem a crueldade de ter sido gerada na dor. Um dia a levaram para loja. Um pescoço curioso quis experimentar. Mas logo se chateou. Queria seu dinheiro de volta. Malditos! Ninguém lhe avisou que dentro daquela pedrinha colorida escondia-se um perfume extravagante. Quem iria saber? Até ela, por vezes, se convencia de sua doçura. Mas essa vida de pedra...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Maria era Maria de "sonhar"


Maria Vai com as Outras (Vinicius de Moraes)

Maria era uma boa moça
Prá turma lá do Gantois
Era Maria vai com as outras
Maria de cozer, Maria de casar


Porém o que niguém sabia
É que tinha um particular
Além de cozer, além de rezar
Também era Maria de pecar

Tumba é caboclo
Tumba lá e cá
Tumba é guerreiro
Tumba lá e cá
Tumba é meu pai
Tumba lá e cá
Não me deixe só

Maria que não foi com as outras
Maria que não foi pro mar
No dia dois de fevereiro
Maria não bincou na festa de Iemanjá

Não foi jogar água de cheiro
Nem flores pra sua Orixá
A Iemanjá pegou e levou
O moço de Maria para o mar

Até hoje ainda se fala
das rodas lá do Gantois
Que triste era de ver Maria
na sala onde ela ia
pra se manisfestar

A gente ainda se admira
seu gira-gira sem parar
Maria girou!
Deixaram girar
E a turma não parava de cantar:

Tumba é caboclo
Tumba lá e cá
Tumba é guerreiro
Tumba lá e cá
Tumba é meu pai
Tumba lá e cá
Não me deixe só

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O tempo




Os anos tinham comido a história daqueles olhos. O cachorro não latia mais. A mãe não preparava o café. O vô não tocava gaita. As horas sussurravam mau agouro. Cruzava a esquina ainda desejando as luzes, mas só encontrava pó. Não sentia mais o desespero. Era como se algo lá dentro tivesse quebrado. Primeiro os cacos lhe inflingiram em dor. Agora para não vomitá-los andava muito devagar. Isso lhe aliviava a dor, mas lhe impedia de dançar. Digeria a fúria adolescente. Era o tempo a lhe devorar. Tudo ia ficando amarelado como foto antiga. Alegria, desejo, saudade. Por que é que inventaram o círculo, o relógio, a bússola? Se antes pensava que não era linear, agora ia mais longe. Também não conseguia se fechar em forma nenhuma. Nesse caos sem forma eram as cores que queriam falar. Saiam da sua boca como os lenços saem da garganta do mágico. Seu querer não tinha mais tantos lados. O caminho era sem volta. Mergulhar nesse caldo colorido lhe doía, lhe fazia gritar, espernear, sumir... Viajava inconscientemente dentro do seu faz-de-conta. Continuaria por caminhos ainda incertos. Com certeza menos vermelhos, mas o traçado caberia dentro de seu caderno.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Novidade


Imagem: A Mulher com Sombrinha - Kirchner

Era Ano Novo e as promessas pareciam grandes. Vira as estrelas da rede. Bebera o juízo e deixara-se cair nos braços bêbados do amigo. Aquele desejo calado beijava. Janeiro na terra da garoa. Chegou o carnaval. A avenida ficou pequena para tantos amores. A chuva derretia o chão e limpava a história. Março. Os novos colegas. Odeio gremista. Assim começou. Não é que até daquelezinho ficou amiga? Trocou o samba pelos inferninhos. A Bohemia pela Heineken. As noites passaram a ser preenchidas por paixões mais rápidas que a luz. Confundiu-se nas escolhas. As cidades com B: Belém, Belo Horizonte, Brasília. Conheceu o sorriso do vendedor de nuvens. O moço derramava encantos. Tropeçava em seus amantes. O mito desencantado. A saudade velada, calada, doída da cidade fria. Nada de visitas. O ano prometia distanciar. Era tempo de refletir. Precisava crescer. Destruir o que ainda restava da Chapeuzinho Amarelo. São Paulo. O amigo do ano-novo. Veio passear. Amaram-se, sorriram e se feriram. Amizade colorida. Benedito Calixto: samba, beijos e cervejas. A realidade lhe chamava. Um encontro com o desespero lhe fez mudar o rumo. Agosto fez parar o furacão. Centrava-se agora em duas mãos pequenas. Fez o caminho se dividir mais uma vez. Reencontrou o primeiro e único amor. Duas horas de encanto e desencanto. Não podia mais ser como tinha sido um dia. A dança, o teatro, o francês. A filosofia! Conhecera quarenta novas pessoas. A sensação de falar sem compreender totalmente. Perdia o medo e ganhava outros. A morte pela primeira vez apareceu. Fazia tanta coisa perder o sentido. Ver a casa sem aquele sorriso. O telefone que nunca mais iria atender.Resolveu escrever seu amor. Parecia que tudo andava tão bem. Mas a vontade de voltar para o olho do furacão não lhe abandonava. Que coisa... que mania essa de desejar, de ver a noite brilhar, de cantar o início da paixão. Falta um mês para tudo começar de novo. E pra novidade chegar...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Meu vô


Os olhos verdes mais cheios de coco do mundo pediram para descansar. Mas essa gente sem fé chora porque quer ouvi-los assobiar. A próxima florada de café. A parreira carregada. A posse do prefeito. Prato cheio para os passarinhos. Mas e ele? Eram dele as uvas, o leite e os cocos mais doces. As palavras mais ternas e cheias de música. O loro que não aprendeu a falar. A casa que precisa fechar. A banda no coreto da praça. A poltrona para espichar as pernas. Cabeça de menino pequeno pra morder. A vó com a casa pra cuidar. Os meninos com as contas. As histórias de morrer de rir. As palavras de fazer chorar. As minhocas pros peixes. A botina e o chapéu do sítio. A piscina. O pôr do sol mais cor-de-rosa do mundo. A família de mulheres. Os doentes que tinha que cuidar. A pergunta sobre o tempo. Os dias mais quentes de verão. A calçada fervendo... Tanta coisa que nem dá pra contar. Mas os olhos ficam. Não quiseram ir bater papo com o Rui. Continuam a amar. E essa gente sem fé que não pára de chorar.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Didi, Nego, Dito, vô



Impossível ouvir uma banda tocar, em qualquer cidade do mundo, e não me lembrar imediatamente do vô Dito caminhando firme, porte de galã hollywoodiano e sorrisinho maroto escapando de lado, rumo ao palco de alguma solenidade oficial de sua querida Fartura. Sem o menor pudor de cair no clichê, confesso que conviver com meu avô foi um baita dum imenso privilégio. Assim mesmo, no superlativo. Desses privilégios que a gente precisa agradecer aos céus por ter caído no nosso colo.

Nem mesmo nos últimos dias por aqui ele perdeu a força, o jeito bem-humorado de levar a vida, o interesse pela cotação do preço do café e o cuidado com a família. Segundo dos cinco filhos de Tonica e Isaac, nascido no dia 17 de julho de 1925, irmão de Mariinha, Pio, Álvaro e Zezinho, pai de três homens e três mulheres, avô de 14 e, ufa, recentemente bisavô – ele, que tanto gostava de crianças, felizmente conseguiu curtir os primeiros sorrisos da pequena Lara. E mais: companheiro apaixonado de Dona Juvelina. Na vitória e na derrota, na saúde e na doença, na pobreza e na riqueza. Amando e respeitando. Para sempre.

Vencedor, sim. Não só por ter sido eleito prefeito dessa cidade por três vezes, despachado com governadores de Estado, deputados, colegas prefeitos e vereadores; ou por ter deixado uma marca positiva para gerações e gerações de farturenses, do principal rival político à Maria – que num gesto impressionante fez questão de ajudar a carregá-lo até sua nova morada. (E só para registrar, qual político brasileiro consegue essa proeza hoje em dia?).

Enfim, vô Dito foi um vencedor porque amou muito e sempre será muito amado.

Lembro que, quando menina, adorava pegar no seu “muque”. Achava o máximo quando pensava que ele era bem mais forte que os avôs velhinhos das minhas amiguinhas! A cada reencontro, um frio na barriga, já que um de seus maiores prazeres era mordiscar o cocuruto dos netos. Ele simplesmente não resistia e a gente se resignava, afinal era tão bom estar pertinho do vô Dito de novo...

Ainda era bem pequena quando ele ensinou a mim e ao meu irmão a cantar as marchinhas de carnaval que tocava no trompete com sua banda no coreto. “O seu cabelo não nega, mulata...” Ai, como ele se divertia com a gente! O melhor mesmo era quando resolvia tirar o velho instrumento do armário e “dar uma palhinha”. Olhem só, ele ainda dava show particular pros netinhos!!!!

Com vô Dito aprendi ainda a pescar (ele colocava com a maior paciência a minhoca gosmenta pra gente no anzol); a assobiar (lógico que sem seus requintes melódicos); e a gostar de novela. Mesmo quando minha vó não queria deixar as crianças assistirem “àquelas sem-vergonhices”, meu vô dava um jeitinho de colocar a gente na sala de televisão. Com ele não tinha tempo ruim.

Mais uma vez sem medo de cair no clichê, confesso que ele me ensinou principalmente a amar. Quem é que não se emociona ao presenciar um senhor de idade chorando, sem pudor, de pura felicidade, ao rever momentos marcantes de 50 anos de casamento?

E o danado continua a me surpreender. Terça-feira, 21 de outubro de 2008, pouco depois das 13 horas. Em frente ao túmulo florido, Ângelo Lucareli esperou a saída do cortejo para prestar sozinho sua homenagem ao velho e grande amigo. E confessou para mim, minha irmã e minha mãe: “Ele foi um rapaz bom, de coragem. Gostava de ir na frente de todos. E a gente gostava que ele fosse na frente mesmo, porque o Dito sabia o que fazia e sabia como fazia. Tratava todo mundo bem, gostava de tratar todo mundo bem. Esses paralelepípedos onde você pisa agora, aqui no cemitério, foi ele quem mandou colocar. Ainda me lembro quando chegou o pessoal no caminhão, com as pedras para o calçamento”.
E então: não é pra se encher de orgulho???

Autoria: Mariana Garcia Ribeiro Soares da Silva, jornalista, 30 anos. Neta mais velha de Benedito e Juvelina. Filha de Maria Aparecida Garcia Ribeiro e Jayr Soares da Silva. Irmã de Cássio e Bárbara. Prima de Lívia, Renato, Letícia, Luciana, Marília, Gabriela, Érico, Ana Flávia, Rafael, Isaac e Vitor. E da pequena Lara.


P.S. - mais uma vez a Mari escreveu um texto lindo depois de quinze dias muito tristes... dessa vez sobre meu vô... quanta saudade fica!!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Foi-se o tempo de menina...


Os olhos que queimam a moça, também fazem despedaçar aos poucos a vontade de sentir-se bem. O cheiro que lhe eterneceu deve sempre ser mantido à distância. Não importa o quão fresquinho e doce lhe pareça. Corpos que não precisam de encontros. Gente livre... Aprisionam pelo timbre da voz. A moça sabe que não pode desejar pedaços, fragmentos, restos. Continua a pulsar. O rio não se acalma mais. Parece hora de rasgar o papel da ilusão. O mar lhe engole, lhe suga. Deixar que a beleza cruel e trágica dos olhos andem por caminhos só seus. Eles não querem dividir seu brilho. A boca se recusa a gostar da outra. Dilacera, estirpa, mata. Não consegue se despedir. A dor, a mão, o beijo. 7 dias, muitas horas, risos e vontades. Engula o choro, moça! Foi-se o tempo de menina. Onde já se viu perder tempo com o amor?
Imagem: Senecio - Paul Klee

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Quer, mas não pode


Aulas, portas, família enforcam seu olhar. A porta que não desvela. Seus pensamentos voam na luz que não esclarece. A vontade faz suas cores transbordarem. Suas mãos desajeitadas. Derrubam, quebram, não sabem dançar. A música toca, mas os pés parecem se enterrar no chão. A vontade reverbera o corpo. A boca. Fala, ri, mas não. Continua a sufocar a verdade. A sala escura corre atrás do sorriso. Aquele monstro que faz viver, chorar, mas não lhe deixa juntar a poesia com a dos olhos escuros. E-mails, palavras, sons já ficaram curtos para vestir seu desejo. Sentir... Poder viver! A palavra novamente a sufocar o olhar. O vento precisa bater pra que elas possam dançar.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Separar os corpos


Ela chegou em casa com a certeza de que viveu um grande amor. Apaixonou-se. O primeiro pedaço de bolo. Entregou-se sem saber onde pisava. Deu sorte. Daquelas bem grandes. Viveram docemente cada segundo de seus encantamentos. Brigaram com a mesma força que se desejavam. Beberam. Dançaram. Beijaram. Te adoro foi ficando pequeno. As calças ficaram curtas. Tiveram que casar. Amor, coração, bebê! Amigos, família, estrada! Vergonha, medo, ovo... Onde chegariam? Para onde caminhariam se decidissem dar as mãos de verdade? Não sabe... não pode saber. O caminho dividiu. Andavam por ruas que não se cruzavam. Uma rótula, uma esquina, um ponto de ônibus!!! Por favor! Não.. a vida disse não... Seguiram. A máscara, o pincel. O palco. Outro palco. Não tão distantes, mas radicalmente longe. O tempo. Serenou. Diluiu o que construiu. Escorreu. Viu que não podia segurar. Deixou ir. O tempo... Um dia e de novo o palco. A cidade fria. Os olhos iguais, a pele ... o cheiro... Sentiu falta do sal. Quem sabe? Ela sabe! Mas que venha sem dor. Virou as costas, disse tchau e não teve medo de sair. Era seu o corpo. Tinha sido seu e isso não podia ser roubado.

sábado, 20 de setembro de 2008

O novo




Uma folha de papel que desabotoa a pele. Eternecida por palavras que trancavam a garganta. Esperava um novo encontro. Seria como um bolo de chocolate diferente. Será possível? Queimaria-lhe a garganta e derreteria. A folha... Rasgava... Sumia... As palavras esqueciam da dor. Revigoravam-se. Estiradas no chão. Precisavam de farinha, fermento. Amar de faz-de-conta estava-lhe tirando o sono, mas era o suficiente para tornar-se real em outro pedaço de papel. O papel vazio. A caneta sem tinta. O amor, o vazio, a dor, a saudade, a certeza, a vontade, a amizade: vestiram preto e prometeram que não se deixariam juntar, nem mesmo por um pedaço de bolo. Malditas palavras! Doce ilusão...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

"(...)a dor e a delícia de ser o que é"


Primeira manhã, primeira bomba. Segunda tarde, segunda bomba. Terceira noite, terceira bomba. Que medo! (Deus achou muito engraçado lhe botar cabelo.) Curto-circuito que aquecia as pernas, tirava do ar, corava. Raiva. Amizade. Confusão. A vida refletida naqueles olhos infantis. Queria desbravar o mundo. Cinco dias. Não dá. Pé no chão. Ai! A primeira vez, a primeira tentativa, o primeiro conhecimento. Como? Nem todo dia é feito de um primeiro momento. Ousar no deslize ou permanecer com os olhos no futuro? Mas aqueles dias tão recheados de formigas. Minhocas. Saiam daqui! Saiam! Os fios querem ordem. Tudo que pretendia era dar conta de seus afazeres pequenininhos. Colocar tudo no lugar. Botar ordem na casa, nos livros, nas folhas, nos pensamentos. Ao mesmo tempo, como abandonar o gosto que lhe faz continuar? Dançar! Não dá... Pensava em uma paisagem para ilustrar suas férias. Nada de ir longe. Eram poucos dias. Férias de faz de conta. Aqueles dias. Regar as flores. Começar. Alongar. Esticar. Reverberar. Sim! O conflito. Não dá, não dá para sufocar o monstro no saco plástico. Esquece. Vai continuar... Sempre... Doendo mais, doendo menos... E lembrou do Caetano: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..."
Imagem: João Sanchez

terça-feira, 9 de setembro de 2008

SP



Sempre quis... sempre volto a querer... sempre tenho saudade... sempre amo tanta gente de lá... sempre volto meio vazia e estranha... Por quê?




Alguém sabe responder?

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Por que a vida dividida?




Desesperava o pensamento do dia. Queria sufocar a verdade. Matar a dualidade do corpo. Aquela moça que chegou de cara triste e coração fechado. Não se parecia muito com sua vontade de viver. De repente a vontade de ver o céu misturar-se de azul e amarelo. Andava por aí tão leve. As pernas escorriam feito rio para o encontro proibido. Tão bom estava conversar com seu amigo próximo mas distante. Seu corpo não queria mudar o roteiro. Resistia à poesia que a vida queria lhe dar.Lembra-se bem que a história não tem final feliz. Mentir de novo? Não! Todo dia tentava esconder de si seu segredo. O rio contiuava a correr e a ver o olhar e o sorriso doce da moça de coração fechado. A música já não era mais só sua.Por que não deixa sentir seu cheiro, seu gosto? Porque se estivesse aqui acalmaria seus dias divididos. Porque é tão bom se reconhecer nele. Porque até filho eles teriam. Por que a vida dividida?


quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Distância


Esquecer, não lembrar, fazer o tempo passar! Anos, anos e anos de conversas, encontros e desencontros. Trocaram de namoradas, de roupa, de faculdade. Ouviram os dramas, as conquitas e a conversa besta de todo dia. Desvendaram almas e segredos. Perderam chaves, dias, dinheiro. Jogaram tempo pela janela. Foram generosos. A conta do banco negativa. O dinheiro para o pastel. Engoliram dores e amores. Uma rua para atravessar. Um estado. Pessoas, dias, minutos que compõem intervalos. Uma mão. Dois corpos. Um cheiro. Um gosto. Misturaram-se. Gostaram-se. Gozaram. Amaram. Viveram! Mas o tempo, a rotina, o trabalho, o estudo, o dinheiro, os amores. A vida dividida. Os prazeres, os desgostos, os compromissos, as lágrimas. A pele!!! A janelinha piscando... segunda, terça, quarta, quinta, sexta... E a tristeza mansinha que chega quando o trabalho dele acaba.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O curso que não fiz

Descobri no blog da Regininha, um dos meus preferidos, que no SESC tem uma oficina de formação para escrita literária. Como sou super curiosa com o assunto, decidi que iria tentar. No caminho desses pensamentos todos, achei melhor deixar pra outra hora. Do jeito que minha vida anda corrida, podia ser que eu nem aproveitasse o curso e ele se tornasse apenas mais uma das minhas obrigações.
Enfim, quem sabe quando o caos do mestrado diminuir, eu tente. Mas isso não impediu que eu me aventurasse um pouco em um dos exercícios pedidos para a inscrição... e aí o resultado da tal biografia literária em aproximadamente cinco linhas! (AINDA VOU FICAR SEM SABER SE ELA É LITERÁRIA).
Já nasci com nome pretensioso. Alegria. Escondida a sete chaves. Se subisse em árvore tinha medo de descer. Virei mulher do padre. Crescia esparramada e teimosa. Faz assim! Não fala alto! Não pode! Resolvi me procurar nessa menina tão distante de Letícia. Dei de cara com um monstro esquisitinho, desengonçado e muito eufórico. Desde então minhas duas verdades dançam por aí. Misturam-se, brigam, refletem. E, por isso, às vezes, dá uma saudade da chave.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

É preciso cantar...


Descobrir-se no buraco escuro da vida. Esbarrando ora no legal, ora na barbárie. Abria aquelas páginas como quem retoma o rosado da face depois de um coma de anos. O mundo coloria-se, gritava, descabelava-se... A flor continuava a preocupar-se com seu perfume já azedo. Pode? A revolução interna lhe tomava tanto tempo... Esquecia de vigiar o buraco da janela. Quem sabe o mundo tivesse lhe contado antes a sua inscrição. O desconforto de não saber onde encaixar não lhe era nada exclusivo nem original. Os tombos frequentes tinham que desaparecer. Chega de desmaiar por um olhar torto. A fumaça faz descortinar o seu desgosto. Abram, abram, vai começar! A banda vai sair da caixinha de música. É tempo de abrir a boca e engolir os raios de sol.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Hora de parar




A moça senta no canto do bar. Desliza os dedos nos fios macios do cabelo. Seus olhos refletem a angústia da noite. Ajeita a franja, olha a hora. Cinco minutos passaram. Nada do moço. Ajeita-se na cadeira. As idéias já fervilham em sua cabeça. Passa o menino pedindo dinheiro para mãe. Não. Refaz os percursos do pensamento. Como pode dançar tanto em torno de si mesma? Nauseia-se com seu egoísmo idiota. São casas simples com cadeiras na calçada. Lar? Lar? Descobre que não sabe de onde vem seu monstro. Mergulha novamente em seu labirinto. Cria histórias descalabradas para entender os cinco minutos. Ops. Agora são sete. Moço recebeu um telefonema, achou melhor não sair de casa. O idiota tava brincando com a cara dela. Mas pode ser que tenha só atrasado no banho. Não, não. Foi assaltado no meio do caminho. Marcou em outro lugar e a tonta está esperando no bar errado. Pergunta o nome pro garçon. Não, não. Olha as horas. Mais três minutos. Quem mandou ser ansiosa desse jeito? Não sabe que ela que poderia ter atrasado? Aliás ela chegou três minutos depois do combinado. E se ele tivesse chegado antes? Acha melhor ligar. Não, não atende. O idiota realmente deu o cano. Levanta-se, olha a porta. Nem sinal. Todo caso melhor arrumar a franja. Afunda-se em seu mar de poluição amorosa. Foram tantas decepções. Dançou tantas vezes com o corpo colado e o cheiro ardendo. Minutos a dança escorria. Cada um no seu lado. Sabe? Amizade é pra sempre! Não precisa acabar. 25 anos. Seus pensamentos escorregam no desgosto. Moço aparece. Semblante dela irradia-se de felicidade mentirosa. Tava querendo esganar o cara que não pensa. Ela odeia esperar. Uma vez ficou esperando meia hora numa livraria. Não conseguia nem ler o conto da Clarice que mais lhe marcara. Sabe? É atrasar só faz mal. Tenta esquecer o furacão que inventara pra si mesma. Se pelo menos ele pegasse na mão dela... Que menina idiota! Nunca vi tão carente assim. EI! EI! MOÇA! PÁRA!!!! A vida lá fora tá gritando seu nome e você entorpecida pelos seus silêncios. TÁ HORA!!! Biiii! Biii!!!!

domingo, 6 de julho de 2008

Há um bom motivo para não odiar domingo?



Hoje me explicaram o grande mistério de domingo: A SEROTONINA TAMBÉM NÃO TRABALHA! Até acho justo que tire folga, mas o prejuízo é danado. Acho que ela poderia variar um pouquinho a data do descanso e fazer uns plantões a mais no domingo. Sim, porque a minha tira folga invariavelmente nesse diazinho que tem cara de feliz, mas é o mais melancólico de toda a semana. Pedi então para que me dessem uma boa razão para eu não detestar esse bendito dia. Sim, porque além de tudo é dia santo, quer dizer, que ele tem nas costas uma culpa cristã daquelas que nem um bonde pode carregar.

Então me deram dois motivos para eu suportar o domingo. O primeira foi que nesse dia a gente não trabalha. Olha, não sei se isso é vantagem. Trabalho não é lá agradável, mas sempre rola aquela piadinha, um encontro com os colegas, um cafezinho... tem lá escondidinho coisas legais nos seus intervalos. (Ponto perdido, portanto, domingo não vale mais por isso).O segundo foi o de não precisarmos acordar cedo. Verdade. Mas e depois que a gente acorda? Tem o resto do domingo inteiro para suportar...

Foi aí que eu mesma começei a pensar as minhas razões de domingo. Descobri que há coisinhas que deixam o dia menos horroroso como eu suponho. Lá vão então as minhas descobertas adocicadas para viver um domingo:

Dá pra tomar um banho mais demorado ouvindo música. A gente sempre acaba comendo uma comidinha mais gostosa . Tem o sorriso alegre e a piada gentil do frentista meu amigo. Um telefonema de alguém que eu gosto, mas mora lááá longe. Minha mãe sempre perde um tempinho contando as fofocas daquela terra que eu nasci. Um tralálá mais demorado com o meu vizinho médico que quer saber o que eu ando estudando e fica brigando comigo porque acredita que a ciência é a salvação da humanidade. A lembrança boa ou ruim da noite de sábado. Um passeiozinho com o João. Antigamente, tinha o almoço "ácido" com o Andrezito. Também é gostoso ver como a minha irmã adora passar o dia estirada no sofá lendo e vendo tv. Dá para ler os livros gostosos sem culpa. Tem os dropes de domingo no blog da Regininha (hoje não, hunf). Uma conversa mais comprida no msn com a Lola e com a Mariana de Belém (apesar de as duas realmente terem tirado férias). E tem o que eu mais gosto que é o cheiro de café nas casas. E lá em Ponta Grossa, a fumaça do churrasco... Quem sabe eu aprenda um pouquinho com esses presentinhos de hoje... Bom domingo!!!!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Corpos

Era um encontro amaldiçoado. Dois corpos dolorosos marcados pela despedida da terra sem mar. Nascia mais uma dor. Mais uma consequência das minas. Devem ter escondido explosivos ali. Só pode! Esticaram os pés para o abismo. Escorregaram no vácuo com a pele colada. Esqueceram a responsabilidade naqueles desvios. Uma mão encontrava o desejo. Chamas desoladas choravam por um encontro. Um cheiro docemente feliz começara a lhe perturbar. Desvanecida de pudor entregara-se aos olhos que refletiam. Uma vez lhe contaram que isso era de fazer querer para sempre. Não podia. O destino já lhe tinha dado um aviso. Todas as letras gritavam: NÃO! Os holofotes piscavam em sinal de alerta. As nuvens encobriam o sol para mostrar o choro. Teimava, então, em burlar qualquer sinal que começasse com a letra "n". Achava que podia se transformar em água. Mas como? Se era o fogo que tinha conquistado esse pesar. Desejava aquele caos tão na medida certa do seu. Desnudava pensamentos. Colhia aventuras. Fazia ventar idéias. Aquecia o esquecido. Mas, sempre ele, o vilão da história vinha escrever mais um não. Dois corpos dolorosos marcados pela despedida da terra com mar.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Chicletes, bituca e todo sentimento do mundo...


Encontrou grudado na sola do sapato um pedaço de chicletes e uma bituca de cigarro. Ficou tanto tempo ali colado escondendo os segredos daquela noite. Calaram as palavras. Mas o corpo falou como nunca. Desbravava sem medo as articulações em movimentos deliciosos. Rostos colaram. Ela queria super bonder. Ele durex. Ah, quem inventou o descartável? Foi esse talzinho aí que assassinou o amor à distância. A virtualidade do coração cortou a verdade do corpo. A dança desmaia. O pé volta para o ponto de partida, enquanto os olhos já comeram o sentimento do outro. A sensibilidade das palavras não se encaixa na frieza do desencontro. Braço pressionado contra o outro. Desejos desfilam beijos molhados. As pintinhas encontram-se escondidas no escuro de um deslize de palmas das mãos. O amortecimento dos dias silenciam a dança. O sapato, a bituca, o chicletes, uma flor feita em trinta segundos e todo sentimento do mundo...
Imagem: Angústia - Salvador Dalí

terça-feira, 17 de junho de 2008

Não podes dançantes

Um certo sentimento gostoso me fez voltar a fazer viagens altamente machucativas. Dessa vez o sabor nem era misturado. E esse passeio era daqueles que vão revirando tudo que encontram dentro da gente. Dia vira noite, paixão vira ódio, medo vira vontade. O coração mostra língua. O estômago se espreguiça. E o pescoço alcança as nuvens. Mas era como se uma tomada me perseguisse. Disparava seus choques e assim não me deixava esquecer. Entreguei-me àquela luzinha. Com um leve mexer de ombros empurrei pra longe todo não pode que me atormentava. Ficaram ali no canto desmaiados, esperando seu tempo de voltar. Fiquei bem quietinha. Queria ver se eles não acordavam do torpor do esbarrão. Olha, tava dando certo, té que em uma noite de lua cheia, alguma coisa lá dentro gritou. Acho que era esse meu monstro que eu tanto escondo. Ele despertou os não podes. Mas como estavam atiçados com as estrelas, resolveram falar não pode para a tristeza. Que rebuliço feliz. Dançaram os não podes e as estrelas. Deram vivas. Contaram-me meu conto de fadas preferido, que é aquele que as cores todas se misturam. Então demos todos as mãos e dançamos o resto da noite daquele jeito que parece que os corpos vão se misturando. Porque até os não podes, às vezes, esquecem do não.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Cartas



Dia normal. Leituras e obrigações. Desci as escadas para ir até o centro. Já eram quase cinco horas, estava atrasada. Mas me detive por alguns segundos na curiosidade habitual que tenho com a caixinha do correio. Uma surpresa quando vi que tinha uma carta mais gordinha. O envelope estava exatamente com a pontinha saindo pra fora. Com todo o cuidado que não costumo ter fui puxando devagarinho. Como estava sem a chave da caixinha, um segundo de descuido significaria ver a carta indo pro fundo do buraquinho. Não saberia de quem era. Ela deslizou, mas eu agarrei com a ponta dos dedos. Consegui! Estava toda alegrinha achando que podia ser um presentinho do Pará. Pois sabe que receber uma carta é como ganhar um presente. Foram dois segundos que os olhos brilharam. Nos dois seguintes enxerguei a marca do Banco do Brasil. Droga! Será que um dia a gente recebe algo que não seja conta ou propaganda?

Boas foram aquelas épocas em que chegava do frio da rua e sorridentemente uma senhora me esperava. Ela estava claramente fascinada com aquelas cartas que eu recebia todas as semanas. Vinham de tão longe... Eu ansiava cada um daqueles envelopinhos tão gostosos. Pegava aquele segredo e subia correndo para o meu quarto. A senhora, coitada, vivia na ilusão de que eu lhe contasse de quem eram, o que diziam, de onde eram... Mas aquele era só pra mim. Lá dentro, sozinha, eu olhava para o selo, para a letra da carta, balançava, olhava através do envelope. E então rasgava pelo ladinho, para que nenhuma letrinha fosse ferida. Que prazer!!!

Eu me angustiava com a demora de um papel tão amado que vinha de tão longe. Insisti para que aprendesse a usar a internet. E foi no que deu. Antes eu sabia que as palavras eram pensadas em um pub, muitas vezes regadas a Guiness. Naquele lugar que sempre nos encontrávamos na saída da estação, onde ficou uma tulipa amarela que deveria ter sido minha. Agora, provavelmente, elas são escritas em uma mesa de biblioteca, de uma máquina usada por milhares e milhares de pessoas. Infelizmente raramente vivo de novo essa sensação da espera que senti hoje a tardezinha ao tentar pegar a carta do Banco do Brasil. Como podia ser tão tola e achar ruim toda aquela expectativa?

Agora o que me resta é esperar uma carta prometida de terras mais quentes que aquela, mas sei não se chega, viu?

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Estrela torta






Já levava uns dias que andavam torcendo o nariz.Dias de não. O carnaval já tinha ido embora. Mas as noites insistiam em se alongar. Uma estrela torta caiu em sua frente. A música alta não deixava ela prestar atenção. Segunda, terça, sábado. Terça, sexta, sábado. Aquele cheiro de fumaça andou lhe dando boa noite. Tropeçou no escuro. Viu miragens. Sonhou com príncipe encantado. A nuvem derreteu. O sol deu tchau e finalmente a deixou em paz. Atenção! Atenção! As mãos tocavam a estrela. Era um calorzinho bom. Barulinho de riacho. Contornava-se o gosto daquela história. A estrela torta mostrava-se ora tão apaixonada pelos seus vôos altos, ora tão absorta nas luzes da noite. Enquanto isso a mão continuava a pensar. Deslizava suas idéias pelo mindinho. Arrastava a cortina para não enxergar aquele brilho. Deliciava-se sentindo aquela idéia nova. Mas fugia. Escondia-se no meio das palavras. Falava com o silêncio e não compreendia. Perdia o chão no meio do barulho. Encantava-se com a ternura daquele brilho que dava conta também dos pequenos. Assustava-se em ver no novo o velho. Não era igual, mas corria pelas linhas da sua história. Um óculos que sumia pra dar lugar a vontade. Queria experimentar tudo. Sempre. Queria ousar a dança que não sabia. Se pulasse na estrela teria uma imensidão de sensações novas a conhecer. Mas o dia sempre voltava. A estrela sempre cadente. Mão, mão! Pois não? Fecha a cortina, por favor!________

terça-feira, 27 de maio de 2008

Vingança mode [off]


Faz uns dias que uma coisa muito importante para mim acabou. Sim, eu sou lerdinha e demoro séculos pra processar tudo. Mas, juro, juro, que não sobrou nada... nem amor nem ódio. Mas enquanto eu ainda estava tristinha e remoendo o passado era tão reconfortante ouvir essa música na voz da Mônica Salmaso...

Vingança (Francisco Mattoso e José Maria de Abreu)

Lá na beira do roçado,

Onde a tristeza não vem
Eu vivia sossegado
Com a viola do meu lado
Mais feliz do que ninguém

Numa festa no arraiá
Vi dois óio a me olhá
Decidi no improviso,
Ela me deu um sorriso
E comigo foi morar

Nunca mais fui cantador
E a viola descansou
Eu vivia pra cabocla,
Eu vivia pra cabocla
Só pensava em meu amor

Nunca fui feliz assim
Eu mesmo disse pra mim,
Pensei que a felicidade,
Pensei que a felicidade
Não pudesse ter um fim

Mas um dia a malvada
Foi-se embora e me esqueceu
Com um caboclo decidido,
Juca Antônio conhecido
Cantador mais do que eu

Já cansado de esperar,
Desisti de procurar
A cabocla que um dia
Levou minha alegria
Eu jurei de me vingar

Numa festa fui cantar
E a mulata tava lá
Juro por Nossa Senhora
Juro por Nossa Senhora
Que a cabocla eu quis matar

Mas fiquei sem respirar
Quando vi ela dançar
Ela tava tão bonita,
Ela tava tão bonita
Que esqueci de me vingar

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O tempo: vampiro do homem


Saía devagar do torpor do sono. Pensava nas alternativas para aquele dia. Estudo ou sono? Um livrinho divertido ou cinema? De repente aquela voz que conhece desde que ainda nem tinha visto a luz do mundo lhe chamava. A notícia já era esperada, mas não podia ser mais triste. De repente o universo tinha virado a cambalhota que tanto ensaiara. E aquela gana de rasgar o bilhete que ganhara ao nascer. Não compreende muito bem o milagre da vida. Acreditar naquela historinha que tanto lhe contaram? Não conseguia mais. Pode ser que isso deixasse seu dia mais respirável. O ar entrava e saia, mas no meio do caminho parecia que se comprimia. Sabe-se lá quando é que vai resolver parar entre o estômago e a garganta... Ficará lá para sempre? As idéias se derretem como sorvete em dia de calor. Persistem por um segundo. No seguinte se esvaiem em um labirinto. A saga da não linearidade. Voltar para aquela dor que primeiro conheceu. Amedronta-se. Esqueceu como tinha planejado pintar a linha do seu corpo. Na verdade, não sabe mais se alguma coisa daquelas fariam-na suspirar em um sorriso. Esmaga-se na lembrança. Culpa-se pelo choro calado mas também pelo riso gritado. O que será que será? Se coxixassem o segredo daquela chavezinha em seu ouvido... Pode ser que seu amigo tenha muita razão ao dizer que pelo menos foi ele quem pagou as últimas duas garrafas de vodka naquela noite despretenciosa. O calor gostoso do gozo e o torpor do álcool ... AHHHHHHHH!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Filme antes do fim


Um par de calças vermelha levantava seu pé direito. Nada via. Apenas sentia um sobe e desce danado dentro da blusa verde. Não enxergava o gosto do mundo. Desenhava suas cores pelo corpo. Numa noite a toa deparou-se com um sorriso. Não era desses que ela via todos os dias. Nem cabia dentro da sua caixinha. Ganhava um doce novo. Cenas coloridas povoaram seu mundo caótico. Não, ela não queria repetir a história. Roncavam os motores. Mais uma vez seus sentidos falhavam. Perdia a audição. Ninguém queria saber de abrir o zíper. Escutava apenas dois olhos negros. A dança podia fazer o filme rodar. Sentia o gira-mundo. O peão caledoscópio lhe mostrava novas poesias. Voltava pelo mesmo caminho. Ansiava ver o fim do filme. Não queria que a história se arrastasse. Os ponteiros do relógio ganharam vida. As folhas do calendário apontavam para o ano-novo. Como? O inverno nem havia começado...Não podia controlar as imagens. Ao mesmo tempo, vestia aquela saia mais uma vez. Sabia que seus passos descompassados lhe faziam tropeçar. Dessa vez não. O zíper não combinava. Que tal trocar? Podiam ser botões. Risca o braço. Pontilha as pernas. A linha desenvolve-se para fora de si. A intensidade lhe nauseia. Não entende o silêncio do tempo. Quando pousa um passarinho na árvore, por que não faz dela seu ninho? Outros olhos desejavam seus suspiros cheios de vontade. Outras vozes gostariam de encontrar com sua língua. Mas o corpo da criatura pedia aquelas entrelinhas. Suas entranhas se aqueceram de conversinhas sem sentido. Ela entendia a riqueza das palavras que se desfazem no vai-e-vem do trabalho. Despejava todo seu rio caudaloso de desejos. Corre, corre, corre! O filme termina antes de ela chegar do outro lado.

domingo, 11 de maio de 2008

Eu: por Mari.




Um dia a Mari escreveu de mim pra mim...

Eu ainda não sei muito bem como isso funciona, mas eu sou forte. Não é para qualquer um ser o que eu sou. Às vezes é sofrido, mas não dá para ser diferente, porque só assim eu sou feliz. Meus amigos e minha família me amam muito, me mimam, abusam de mim, me educam, mandam em mim e me aturam, às vezes. E porque eu amo tanto todos eles, mas tanto, deixo tudo isso acontecer. Às vezes eu olho o mundo e não me encaixo em lugar nenhum, e vou vivendo mesmo assim. Depois, é como se eu tivesse construído um mundo dentro desse mundo estranho, que é só meu e que é muito legal.

E continua a ser verdade naquele sentido dialético, de que os espelhos se multiplicam... de que do real vem a norma e a norma recria o real, recriando também a norma...

terça-feira, 29 de abril de 2008

Romance adormecido


A fantasia que fez ainda fala. Grita em seus ouvidos e faz voar pensamentos. A proximidade das lágrimas não a empurra, balança-na! A enxuradada dolorosa em que viveram seus penamentos pulsam descabeladamente. Ah... aqueles dragões que nada tinham pra fazer. Levanta da cama para ressucitar a poesia infinita que inventaram. Vive de recriar antigas metáforas. Não quer mais olhar sem sentir. Mas fala! Desesperadamente! GRITA! Suspira a volta daquilo que aprenderam a fazer brilhar. Todos os dias devora-se para encontrar o que restou. Mas se desespera com medo de não mais nomear seu amor. Acende e apaga o fogo. Vive da chuva que tenta secar. Não quer mais brincar com o orgulho. Apenas passeia delirantemente dentro do seu romance adormecido e insiste para que alguém lhe tire para dançar.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Belém


Cheiros que vem daquele verde. Aquele lugar grande do mapa, sabe? A excentricidade faz do doce mais picante e do salgado mais excitante. 3 horas. Mar de água enfeitiçada de realidade. A cabeça fervilha em um olhar mais atento. Sente-se tão parte desse país. É, esse mesmo, que Jesus achou muito engraçado lhe mandar. Curupira, boitatá, caipora tomaram vida. Despertam os poros. Fazem ver o enegrecido pelo fogo. Terra que transpira apetite. O novo, que não é novo, fez tansformar. Um novo que já não é tão seu. A reprodução de espelhos desfaz realidades, explode os estigmas. A chuva faz viver sua dança, sua alma. Tão sua e tão monstruosa. Tão doce e tão cruel. Vomita verdades pelos cantos. Estilhaça vidraças impenetráveis. Mas ainda lha custa tanto deixar esse filho nascer. Quem sabe seja de lá que vem o que faltava...

Conto Beira de Rio


Açaí. Beira do Rio. Mil homens! Mil Homens! Mormaço que eleva à máxima potência. Olhos se fitam. Mil homens! Enfeitiça com um sorriso flutuante. Gente do Norte. Tão mais ensolarados. Vive-se no momento da perfeição maior. Guria que ainda congela com medo do prazer. Bacuri. Chuva, chuva. A mágica dos corpos quentes. Aiai.. e aquelas bolas de gude que mais parecem miragem. O real do imaginário. Tola. Deslumbra-se com um estalo bem dado. Que menina sem rumo! Vai com o vento. Seu corpo dilui-se no Guamá. Quem sabe um boto a tenha seduzido. Que essência usar para desfazer o feitiço? Do norte ao sul ela sempre tropeça nas mesmas dúvidas. Desvia-se das mesmas verdades. Alegra-se infinitamente com uma noite flicts. Vida vida. Se não chamasse.......... chamaria-se euforia.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Chopp, Beatles e Búzios.




Um moço de mochila. Era bem cedo quando trocaram o primeiro bom dia (que não devem ter passado de cinco na história)! Um desencontro.Ele, um ano triste na Ilha ensolarada. Ela, doze meses felizes na cidade cinza. Antecipadamente separados pelo tempo. Felicidade de piscar de olhos.Olhares rápidos. Sala de aula. Estado de exceção. Especismo... Chopp, beatles e búzios. Degrau, meio-fio, escada. Acreditavam que se eles não tinham sido feitos um para o outro, o mundo tinha se encarregado de se adaptar a eles. Viveriam felizes para sempre. Mesmo que o sempre durasse 36 horas. Foi assim! Borboletas e revolução. Os vinte centímetros que antes não faziam sentido. O estado que não existia. Papéis picados afogando a moça. Baldes e baldes coloridos de tinta no cenário de suas vidas. PUF!! A luz apagou. Trânsito, trabalho e todas as mil maravilhas do mundo moderno. As palavras já não eram suficientes para preencher a cama. Freneticamente ansiava por aquele som. Por dias e dias deleitava-se apenas na expectativa de conhecer aquela terra esquisita. Eternecia-se com a idéia de uma mochila tão cheirosa. O até logo dizia cada vez menos logo. Contava inocuamente os dias do calendário. Tic-tac, tic-tac. Chuva, sol. Frio, calor. As linhas cada vez mais paralelas. A mochila encontra um novo ombro. João que amava Teresa que amava Raimundo...


http://br.youtube.com/watch?v=2hG9PsqJGds

quarta-feira, 26 de março de 2008

Dois em um




Ela já nasceu dividida. Verde do pai, vermelho da mãe. Polaca na pele, paulista na vida. Foi crescendo meio sem saber por onde. Espalhava-se no jardim na hora do sol. Virava caramujo quando rodeada por outros olhos. O gosto pela brincadeira com as palavras vem daquela mala fechada. Já, o delírio e euforia não dá pra negar que herdou daquelas noites alegres. Dançava. Batia o pé naquela aguinha do banho. Tinha medo de altura, de subir em árvore. Gostava de casinha e de boneca. Quando lhe perguntaram o que queria ser foi um Deus nos acuda. Médica, psicóloga, jornalista, advogada. A tonta da menina escolheu errado. O caminho direito lhe fez mal. Era como se lhe arrancassem a língua. Um chapéu lhe tira da cadeira. Alegra-se. O cheiro do cigarro a persegue. Anos depois, uma festa. Daquelas que a mãe tinha lhe ensinado. Bolo, docinho, despedida e amigos. Um bebê. Encanta-se, canta. Volta a dançar. Mais uma vez ela se vê em duas cores, em dois lados. O lado que não quer matar o outro. Côncavo e convexo ao mesmo tempo não dá! Prende a respiração. Esconde-se do sol. Vê o tempo lhe deixar cada vez mais dividida. Duas partes. Cadê o soberano? Mais uma vez encontra o vermelho. Para quê? Por que essa menina não pode tomar um chá de camomila? Dêem-lhe um lexotan. Parem o carossel. Tudo gira. Ela encontrou um vestido preto. Tão bonitinho e simpático. Mas parece que ele escolheu o chapéu. O vestido preto vai passear com o chapéu. Vestido. Chapéu. Vestido. Chapéu. Vestido. Chapéu... que canseira!

sábado, 22 de março de 2008

"A menina dança dentro da menina"



A sensação de estar no mundo errado jamais lhe abandonara. Ainda mais amargo era saber-se desajeitada no lugar onde lhe colocavam. Sabe o jogo de achar países? Ela acabava sempre na Espanha, mesmo desejando a França. Quando lhe parece rosa é cinza. Na esperança de o cinza se colorir, joga conversa fora. Vascila e pisa em falso. Volta pra casa com a cabeça desaguando em desentendimento. O animal perfeito esconde-se. Foge. Ela está prestes a matá-lo. Mas ele é bravo como a avó com medo da seca. Um dia, o rosa vem. De novo. Ela sempre desejara um vermelho desconfiado daqueles. Sem provar. Mas lhe parece tão gostoso. Sabe, ela sente o gosto de brincadeira. Daquelas que ninguém está preocupado com a medália. Os gritos pulam da boca das crianças. É como se ela voltasse a acreditar que pode convidar alguém para o gira-gira. Lembra das cores dos olhos fechados? Pode ser que elas existam mesmo sem sol.

domingo, 9 de março de 2008

O dia que vai bater diferente!


Todos os meses do ano passaram até chegar hoje. Primeiro o coração enrijeceu. Parecia que tinham lhe dado veneno. Bastava um suspiro para ativar o mar de lágrimas. Mágoa que se desfazia em tempestades serenas. A dor de amar e desamar. Fúria despejada naquele que antes recebia os gestos mais doces do mundo. O pensamento não conseguia se desfazer dos recortes coloridos que aquele tempo deixou. O corpo contorcia-se na espera do calor com o qual havia se acostumado a passar as noites. A alma desfalecia. Como começar se não acreditava no fim? Ouvidos cansaram daquela ladainha. O sol tentou roubar do quarto tudo aquilo que ele tinha ganhado durante aquele tempo. Não era pouco, nem fácil. A cidade era nova, mas tudo que queria era a velha. Sonhava com dias acinzentados eternecidos por aquele outro corpo. Mas, pouco a pouco, a nova cidade foi se tornando realmente ensolarada. Pois naqueles dias vivia dentro de uma nuvem de fumaça. Nem um palmo a frente do nariz. Tentou enganar o coração com a razão. Mas o corpo sempre estava lá pra não deixar esquecer. Os olhares nem se encontravam mais. A alma amada já não lhe pertencia. Pertencer... que coisa boba! Dia a dia e um cantinho a menos daquele peito doía. A vida voltava a se iluminar tãaao devagar. Um dia reencontrou um amigo em uma cidade tão ensolarada quanto a nova.Naquele lugar que muitos já foram felizes. Era uma companhia antiga, com velhas memórias e novas histórias. Tinha também um carinho especial. Ele achou a chave do corpo dela. A alma não esquentou novamente. Nem mesmo um dos dois queria isso. Mas o corpo voltou a acreditar... Ainda acontece de a moça acordar domingo com saudade daquele quarto gelado. Lá onde apenas dois corações jovens e eternecidos vivam às gargalhadas. O corpo não sabe como seria encontrar de novo aquele cheiro. Sabe que naquela cidade cinza há um coração sendo amado. Mas,serenamente, apenas espera o dia de bater diferente de novo.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Dias de sim e de não


Ando sempre reto. O caminho é que entorta. Encontrei uma passagem escondida. Perguntei o que tinha. Achei que não precisava, mas entrei. Experimentei. O cheiro desagradou. Saí. A vida pareceu encorpada de novo. Desafiei com olhos apertados. Bati de frente com os escândalos alucinados. Ora driblei a certeza, ora corri em seus braços. Perdi-me em frações de segundo esfumaçados. Escureci. As bifucações se calaram. De repente, O GRITO. Meus sentidos pedem o fogo. Aventura nem parecia meu forte. Eles viram meu sorriso de sim, pois não, bom dia. Não quero. Desagrado. Descontento. Deságuo em dias ensolarados. Desgostei do vai e vem do ar no meu corpo. Quis que tudo se calasse. PSIU!!!!! Mas aquele tic tac danado! Nada de passar.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Saudade


Cansei de sentir saudade... Acordei hoje cansada. Decidindo que não queria mais ninguém que pudesse me tirar um milímetro do meu gosto de viver em um lugar. Por que eu já morei em tantos lugares assim? São quatro cidades diferentes. Mas contando os lugares que as pessoas que eu amo nesse mundo moram... olha, não deve caber nos dedos das mãos... Nem me atrevo a contar, porque vou lembrar de gente que eu nem sei mais onde está morando. Tem gente até que nunca vi na vida e tenho saudade. Como pode?
Num dia rimos, trocamos confidências, inventamos brincadeiras. No outro: a estrada. Cada um pro seu canto, pra sua casa, pra sua vida, pros seus mais milhares de outros amigos, pros seus amores, pros seus interesses. Eu também... mas como tenho saudades dos que não estão aqui...
Se eu pudesse, não conheceria ninguém a partir de hoje que morasse em um raio maior que cem quilômetros da minha casa.
Mas como fazer isso com toda essa minha vontade de conhecer o mundo?
Que vidinha... que vidinha...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Tempo de ser sua


Dias de náusea. Amanhecia e contava as flores no quintal, os ladrilhos do banheiro, as tábuas do chão. O tic tac do relógio ... na mesma velocidade. A respiração cadenciada custava-lhe toda ansiedade. Um samba morreu. Ela morreu. Os pensamentos boiavam na piscina.
Ventilou o corpo com ternura. Aqueceu suas angústias na beira d´agua. Aquele amor de que tanto tinham lhe falado. Nasceu. Não aquele que ela dava em troca de suas cores.
Só ela sabe o quanto lhe perturbava o barulho ensurdecedor de seu passado. O silêncio famigerado dos amores não enterrados. Assim, decreta o fim dos assaltos. Impossível que levem dela o que nem tem. Nunca mais.
Promessa boba. Pronta pra ser quebrada. Feita exatamente porque sabia que não poderia ser cumprida. Mas foi a salvação. Rastreiam o céu. Ninguém podia saber. E se lhe contassem, ela não ouviria. Ela se reconhece, se conhece, se toca.
Finalmente descobre que se movimentar os olhos para aquele lugar, voltados naquela direção, verá milhares de estrelas. Como são bonitas. Brilha! O calor voltou para suas pernas. Achou aquilo que tinha perdido em uma aventura.
Tão jovem e tão esperta. Custou-lhe um par de anos pra saber que já conhecia seu próprio segredo. Embriagada pelo hálito daquela noite, destrancou sua verdade.
Ela não é uma novidade, nem um passado, apenas a vontade de pertencer a si mesma. O cheiro dos dias voltaram a ser só dela. Cansou de dividir pensamentos e roubar idéias. A pele ainda se cura de tantos machucados. Mas ela sabe que conseguiu colocar um ponto final.